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O salvinismo: uma paixão da direita italiana

Matteo Salvini conseguiu se impor como o principal líder da direita italiana, desbancando o Movimento 5 Estrelas e também o partido histórico de Berlusconi.
por Mariano Schuster e Pablo Stefanoni | Nueva Sociedad – Tradução de Gabriel Deslandes para a Revista Opera
(WikiCommons)

Como Matteo Salvini alcançou sua esmagadora popularidade? Sua liderança política é semelhante à de outras forças políticas da extrema-direita europeia? Como funciona seu discurso anti-imigrante? Sobre a ascensão da direita populista e o declínio da esquerda, conversamos com o analista político Samuele Mazzolini*.

Nueva Sociedad: Matteo Salvini conseguiu se impor como o principal líder da direita italiana, desbancando o Movimento 5 Estrelas, mas também o partido histórico de Silvio Berlusconi nas últimas eleições regionais. Quais são as razões que explicam que a Liga, um partido historicamente ligado ao Norte e associado ao secessionismo e ao ódio aos “pobres do Sul”, tenha conseguido crescer em regiões adversas?

Samuele Mazzolini: A partir de 2013, quando venceu as primárias da Liga Norte sobre seu fundador e líder histórico Umberto Bossi, Matteo Salvini começou a imprimir uma lenta virada ao partido, que vem se acelerando no decorrer dos anos. A Liga Norte havia sido historicamente o partido de interesses dos pequenos proprietários das regiões do Norte – Lombardia e Vêneto, em particular –, esmagados pela pressão fiscal e que também ostentavam uma diferença cultural em relação ao resto do país. Entretanto, deve-se notar que, desde então, a Liga Norte começou a interceptar segmentos significativos do voto operário graças à aura demagógica de Bossi. Na retórica partidária, Roma era uma cidade parasita e “ladra”, já que vivia de aparatos estatais financiados pelos impostos do Norte. O Sul da Itália era descrito em termos de preguiça e atraso social e econômico, somente mitigado por um assistencialismo demasiadamente generoso.

Em seu período mais extravagante, a Liga Norte deu vida a um exotismo político que misturava ocorrências bizarras e vulgaridades crassas. A partir do nada, a Liga inventou uma genealogia histórica da Padânia – o vale que ocupa a maior parte do Norte da Itália –, com manifestações anuais em que os militantes da Liga retiravam uma ampola com uma amostra de água do rio Po (símbolo da “independência” do Norte de Itália), além de gestos obscenos e ultrajantes que Umberto Bossi nunca poupou durante os anos de sua ascensão política. A Liga Norte oscilou entre 1990 e 2013 entre uma posição abertamente separatista (que não rendeu muitos resultados eleitorais) e a colaboração com Berlusconi com uma plataforma federalista. No Sul, eles sempre foram muito odiados. A Liga Norte era a muleta das coalizões de centro-direita no Norte.

Salvini, que até recentemente estava totalmente imbuído dessa retórica política, mudou de rumo, moldando o partido para o formato da Frente Nacional de Marine Le Pen e mudando até mesmo o nome para como é agora, chamado simplesmente de Liga, sem a palavra “Norte”. É um partido nacional, com uma retórica focada principalmente na imigração. A intensificação e midiatização do fenômeno migratório nos últimos anos, com um aumento dramático nos desembarques de seres humanos desesperados nas costas do Sul do país, ofereceram um material explosivo para a Liga.

Nesse contexto, Salvini se caracterizou por manter uma postura forte e conseguiu identificar a esquerda como “buenista” (bem-intencionada, mas ingênua) e esquecida dos interesses dos italianos, e acusou em paralelo os outros países europeus de deixarem a Itália sozinha na gestão da migração. De acordo com Salvini, a dinâmica migratória coloca o mercado de trabalho em um beco sem saída, obriga o Estado a gastar dinheiro com migrantes e ameaça a ordem pública.

Foi uma estratégia que, em uma conjuntura de retrocesso social e econômico, canalizou o descontentamento social da maneira mais grosseira. O cumprimento dessas promessas eleitorais, desde que ocupou o cargo de Ministro do Interior, conseguiu aumentar exponencialmente sua cotização política nos últimos meses. Além disso, Salvini foi hábil em incorporar outras questões que nenhum outro sujeito conseguiu captar na arena política, como a oposição à reforma previdenciária e aos tecnocratas europeus. Com relação a este último ponto, ele flertou com uma desconfiança galopante em relação à União Europeia que está se desdobrando em todo o país e chegou a questionar até mesmo o euro, mas dizendo o contrário quando isso não lhe convinha.

Nueva Sociedad: Se você tivesse que desenhar um perfil do Salvini, quais traços você destacaria?

Samuele Mazzolini: Temos de reconhecer que Salvini tem um grande olfato político. Acho que sua maior habilidade está em transmitir slogans da direita radical como declarações de “senso comum”. Seus tons são ardentes, mas ele sempre consegue apresentar suas propostas como perfeitamente legítimas, como fruto de um raciocínio. Elas não são uma mera gritaria: por meio de uma linguagem simples e linear de “homem do povo”, é capaz de empacotar políticas extremas como óbvias e evidentes, colocando-as do lado de fora do campo da razoabilidade outros atores políticos.

Outra capacidade – esta sim mais subterrânea – é a de manter sua popularidade em setores que estão em seus antípodas políticos. Salvini não gosta exclusivamente daqueles que hoje incubam um forte ressentimento social. Mantém, ao mesmo tempo, um apoio muito alto entre os setores empresariais. Nem todo mundo nesse setor tolera seu ímpeto xenófobo, mas, ante a incógnita do Movimento 5 Estrelas, preferem um partido com vocação muito mais clara em defesa dos negócios, como evidenciado pela promessa de instituir o flat tax (imposto fixo). Isso explica por que, durante vários meses, Salvini teve uma “boa imagem” em alguns jornais da imprensa de orientação liberal. Ele é um político bastante perspicaz, pois, ao exibir uma mistura de radicalismo de direita com pragmatismo pró-empresarial, ele funde ambientes sociais bem heterogêneos.

Nueva Sociedad: Que semelhanças e diferenças existem entre Salvini e outras correntes europeias de extrema-direita, ou “populismos de direita”?

Samuele Mazzolini: É uma galáxia complexa. São formações que têm diferentes genealogias. Além de, nessa conjuntura histórica, serem heuristicamente categorizados como populistas de direita, é importante manter a abordagem mais analítica possível, mesmo para evitar cair na armadilha de acusa-los, sem motivo, do fascismo. O que eles têm em comum é uma hostilidade aberta em relação à migração. Eles reivindicam seus países exclusivamente para os nativos (nativos geralmente entendidos em termos de consanguinidade estritamente étnica), exibindo intolerância em relação aos migrantes africanos e asiáticos, mas também em relação aos da Europa Oriental.

Alguns deles expressam mais preocupação do que outros sobre a suposta “islamização” de nossas sociedades. É uma questão que Salvini implantou, embora eu não diga que seja tão central como no caso de Marine Le Pen na França e Geert Wilders na Holanda. De uma forma menos visível, uma parte deles tem posições homofóbicas, mas há exceções, como a líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, que é abertamente homossexual, ou o holandês Pym Fortuyn, que também era homossexual.

Parece-me, todavia, que há diferenças importantes. Alguns deles não conseguem remover completamente uma certa estética fascista, embora o discurso (em muitos casos) não seja mais assim. É o caso da Frente Nacional de Le Pen, cuja associação com o regime de Vichy ainda segue sendo bastante imediata. O mesmo se aplica à AfD na Alemanha e ao Jobbik na Hungria, que vêm de movimentos sociais de extrema-direita.

Como sabemos, a origem ideológica da Liga é muito diferente, embora claramente Salvini tenha se tornado uma opção eleitoral muito atraente para o eleitorado pós-fascista. Porém, eu diria que a diferença fundamental é outra. Embora a maioria desses assuntos sejam hostis à União Europeia e postulem a recuperação da soberania nacional (a partir da perspectiva de direita, obviamente), o elemento “anti-austeridade” é mais acentuado no caso da Liga e, em parte, de Marine Le Pen. Não é por acaso que os populistas de direita da Europa do norte recuaram, como muitos liberais em seus países, a la parábola de “A Cigarra e a Formiga”: os povos do sul da Europa são cigarras dedicados à boa vida e querem que suas contas sejam pagas pelas formigas trabalhadoras, que seriam os povos do norte. Vale ressaltar este que é um discurso que carece de qualquer tipo de sustento. Finalmente, há uma outra fonte de tensão entre eles – além de terem tido muitos encontros juntos – em vista de uma espécie de “Internacional populista” de direita. Salvini repetidamente tem reclamado que deve haver uma distribuição equitativa entre os países europeus dos migrantes que chegam à Itália. O mais recalcitrante foi justamente seu amigo Viktor Orbán da Hungria.

Nueva Sociedad: Luca Morisi, o guru das redes que desenvolve a campanha política Salvini, conseguiu transformar um demagogo que só tinha poder de convencimento para setores minoritários racistas e xenófobas em um líder popular de verdade. Quais foram as chaves da estratégia de propaganda que permitiram que Salvini parecesse “próximo do povo”?

Samuele Mazzolini: Esse é outro aspecto fundamental. Há uma hiperexposição da mídia de Salvini. Você liga o rádio, e Salvini fala; liga a TV e é Salvini; na sua cidade, mais cedo ou mais tarde, você topará com Salvini se apresentando em um de seus discursos; você se conecta às redes sociais e aparece um post ou uma foto de Salvini. Neste último campo, parece que Luca Morisi aperfeiçoou seu sistema particular, comumente chamado de “A besta”. Eu não sou especialista em tecnologias digitais, mas entendi que se trata de um sistema que gere conjuntamente redes sociais e listas de discussão, analisando constantemente o conteúdo de maior sucesso, o tipo de usuários que interagiram e de que maneira eles têm feito isso, o que lhes permite refinar a propaganda, calibrando as mensagens de acordo com as oscilações e mudanças no humor político. Algumas semanas antes das eleições do ano passado, lançaram um jogo online no Facebook chamado “Ganhe de Salvini”, que convidava os usuários a interagir com as postagens do “Capitão” [o apelido do líder da Liga]. Quem ganhava tinha uma foto publicada no canal de Salvini, recebia um telefonema dele e finalmente poderia encontrá-lo em uma reunião “reservada”. Foi uma maneira de aumentar o volume de tráfego do canal, mas também de capturar os dados de um grande número de usuários. Agora sabemos muito bem que a gestão de big data é importante quando se tenta influenciar a opinião pública.

Nueva Sociedad: A ascensão da “salvinismo” parece paralelo ao colapso político e intelectual da centro-esquerda italiana, uma das mais fortes no Ocidente. É possível pensar de onde esse espaço poderia ser reconstruído?

Samuele Mazzolini: Todas as vertentes da esquerda italiana vivem um período de crise muito grave. As eleições de 4 de março de 2018 serão lembradas, por muito tempo, como seu Waterloo. A esquerda moderada e social-democrata passa por um desvio profundo. A adesão às políticas antipovo, sua aceitação acrítica da austeridade imposta por Bruxelas e sua proximidade com grandes negócios e grupos financeiros tornaram percebidas, com razão, como cúmplices da perda daquelas garantias sociais e trabalhistas que haviam caracterizado a fase histórica anterior.

Matteo Renzi, depois de um período no qual ele conseguiu aparecer como o representante de uma proposta inovadora de renovação geracional, em uma espécie de “populismo de centro”, descartou muito rapidamente seu capital político acumulado e agora, aos 44 anos, já é uma estrela minguante da política italiana. Ele mal chegou ao poder e demonstrou que a única variante para que contribuiu era uma moderação ulterior do Partido Democrata (PD), em um processo gestado, pelo menos, desde a morte do Partido Comunista Italiano (PCI) e do qual Renzi representou a ascensão e a consequente ruína. Arrogante, vaidoso e fora de contato com a realidade, ele confirmou a tese de Maquiavel, segundo a qual o líder chegar ao poder não necessariamente coincide com que aquilo que é necessário para mantê-lo lá.

A esquerda radical também não tem esperança alguma. Ante à população, parece totalmente residual. Esse setor político é dirigido exclusivamente para si próprio, pois deve respeitar certos cânones do discurso e uma determinada estética. A esquerda acredita que deveria gostar de si mesma. Na verdade, você deveria gostar por fora de si mesmo.

O fato é que seus processos litúrgicos, fora de sua própria bolha, provocam rejeição. Está encurralada e não percebe que escolhe autonomamente o nicho do espaço político que a neutraliza. Não é uma questão de deixar de lutar pela justiça social: é uma questão de símbolos, palavras, tiques nervosos, uma repetição de todo o “politicamente correto” que se tornou odioso. Porém, é também uma questão de conteúdo. Nesse sentido, nenhum dos dois lados da esquerda consegue desenvolver uma análise socioeconômica à altura das circunstâncias, insistindo em direitos civis e individuais em um momento em que a prioridade da questão social é óbvia. Nenhum dos setores tem problematizado seriamente o papel da União Europeia e do euro. Ambos têm sido a alavanca pela qual o neoliberalismo se cristalizou e consolidou, erodindo a democracia em favor de mercados e esvaziando os Estados europeus de soberania popular. Segundo a esquerda italiana, falar em soberania hoje corresponde a adotar a linguagem do inimigo. É uma palavra vetada. Posso ver que, visto da América Latina, essa posição parece grotesca. Aqui só a direita e o Movimento 5 Estrelas tem sido sagaz o suficiente para vislumbrar a necessidade de se referir à “questão nacional”, que é um nó riquíssimo, já que aí se condensam o déficit democrático, a assimetria entre os países europeus e a necessidade de levar adiante uma proposta ancorada nas tradições populares e nacionais. Em vez disso, a esquerda é apresentada como defensora de um cosmopolitismo abstrato, e não é por acaso que seus eleitores pertencem às camadas abastadas, que vivem em centros urbanos caros. Suas raízes populares são quase nulas.

Nueva Sociedad: Há alguns meses atrás, vários prefeitos do Sul da Itália se rebelaram contra Salvini e decidiram não fechar seus portos antes da chegada dos imigrantes. Como esse conflito humanitário e territorial entre o governo e os prefeitos pode ser resolvido? Podem lideranças, como o prefeito napolitano Luigi de Magistris, encarnar a nova oposição ao governo?

Samuele Mazzolini: O gesto desses prefeitos foi corajoso e meritório, mas não há conflito territorial. A verdade é que a possibilidade de reverter a política de Salvini de fechar os portos está fora de seu alcance. A questão humanitária não tem uma solução fácil. As migrações são dinâmicas que têm profundas razões estruturais e que requerem soluções drásticas, começando com o questionamento do papel dos países ocidentais e suas multinacionais na África. No curto prazo, seria necessária uma maior solidariedade entre os países europeus e a superação da Convenção de Dublin, que prevê que é o país de chegada do migrante o responsável pelo processamento de asilo, o que coloca uma pressão excessiva sobre os países do sul da Europa – Itália e Grécia in primis.

Quanto a De Magistris, sou forçado a responder enfaticamente que não, ele não pode incorporar nenhuma oposição ao governo. Recentemente, ele descartou a possibilidade de liderar uma ampla gama de forças de esquerda radical frente às eleições europeias. Há dois tipos de razões para pensar que ele não teria sido particularmente bem-sucedido. O primeiro tem a ver com o personagem. Nos últimos tempos, ele se fechou em uma linguagem e um simbolismo muito vernáculo, muito napolitano, com pouca projeção no centro-norte da Itália, onde vive a maioria da população.

Ele também saiu com propostas bizarras, como a ideia de uma criptomoeda para Nápoles e a organização de um referendo por mais autonomia para a cidade – em um contexto em que a autonomia tem sido sempre uma palavra de ordem da Liga para desenganchar o Norte das regiões do Sul, objetivo que Salvini está conseguindo realizar com a transferência de poderes para três regiões do Norte em meio a um silêncio generalizado, pois colocaria em dúvida sua vocação nacional. A segunda é que De Magistris não conseguiu manter uma distância prudente de assuntos políticos desacreditados e sem futuro político. O pior é que sua proposta foi fagocitada por esse milieu, com a adoção de tons de condenação moral, em vez de condenação política.

Vamos voltar para a questão imigratória. Esta supõe hoje em dia uma dicotomia da qual não há nada de bom para ser tirado dela. Insistir no polo oposto da Liga é eticamente louvável, mas politicamente infértil. Sua alternativa seria tentar se aproximar da Liga, mas isso é eticamente repugnante e politicamente inútil: já existe alguém ocupando esse espaço imensamente melhor que você. O único caminho que pode fazer algum sentido é adotar uma posição matizada sobre o tema para evitar sair politicamente esmagado. Isto é, reconhecendo o drama humanitário e rejeitando as políticas da Liga, mas admitindo a natureza problemática do fenômeno e a necessidade de alguma intervenção regulatória. Contudo, trata-se de um eixo do qual é praticamente impossível extrair receitas políticas, e novas dicotomias devem ser buscadas para que se ocupe a posição mais forte. É questão de controle da agenda política. Em contraste, a esquerda e De Magistris têm seguido essa linha. Recebem passivamente a dicotomia da migração (e similares) e a reforçam, voltando a utilizar um antifascismo militante que não se articula a nada e se limita a expressar um discurso de cunho moral.

Nueva Sociedad: Como a Itália atua na geopolítica global hoje?

Samuele Mazzolini: Muito mal. A Itália tem sido historicamente o Sul do Norte e o Leste do Oeste. Agora corremos o risco que isso se inverta. No entanto, não é um tipo de “Destino manifesto” ao contrário. A Itália tem um valor potencialmente muito maior do que suas pavorosas elites pensam e o que as eleições malucas dessas elites determinaram nas últimas décadas. A Itália tem sido historicamente mantida refém do assédio para imitar modelos estrangeiros, e a participação no processo de criação de euro – uma das apostas geopolíticas mais absurdas e nefastas do século passado – representa o ponto mais alto dessa atitude. É a filosofia da chamada “ligação externa”, ou seja, a vontade de amarrar os nossos modelos de economia e de sociedade a modelos que nossas elites consideram como de maior sucesso, para nos arrastarem de fora de nossos supostos atavismos, de nossa aparente propensão ontológica a desastres.

É, em suma, uma espécie de “autorracismo”. Tudo isso foi traduzido em uma política externa à mercê dos mais poderosos, tanto na Europa como no mundo, sobretudo os EUA. É por isso que a Itália sempre esteve na vanguarda no fornecimento de recursos (militar, financeira e de inteligência) para fins que não são seus (veja, em particular, a participação em guerras conduzidas pelos outros), colocando em risco até mesmo suas próprias redes comerciais.

A Itália não está imune aos problemas econômicos, demográficos e políticos internos que prejudicam sua projeção internacional, mas um eventual “Italexit” assusta o mundo inteiro, pois questionaria a própria existência da Zona do Euro. Nesse sentido, a Itália não é a Grécia. A Itália desfruta de posições que lhe permitiriam liderar uma política externa mais independente e protagonista. O tamanho de sua economia (a 8ª ou 9ª maior do mundo), sua posição geográfica privilegiada no centro do Mediterrâneo e sua excelência em alguns setores tecnológicos são elementos que, em princípio, poderiam outorgar um papel muito menos servil do que agora. A questão é que falta Estado e falta uma classe dominante no nível que saiba raciocinar fora dos padrões consolidados de “instituições que funcionam”. Para ter um papel geopolítico mais relevante, o processo inacabado do “Risorgimento” teria que ser acabado. É uma tarefa que o Partido Comunista propôs, mas agora ninguém raciocina nesses termos.

* Samuele Mazzolini é PhD em Filosofia pela Universidade de Essex. Ele trabalha como professor no Departamento de Política, Línguas e Estudos Internacionais da Universidade de Bath. É colaborador regular do jornal Il Fatto Quotidiano e presidente da organização política Senso Comune.

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